29 de novembro de 2011

FICO ALI



Perco-me por aí…
Parece que nada permanece, de pé, aqui.
Deixo-me ir e acabo inebriado.
Absorvido por palavras, olhares, pensamentos.
Esboço um sorriso que se apaga,
ao vacilar nesta peleja interior.
Sento-me, mas não quero ficar.
Saio, quando queria entrar...
O meu mundo é calado!
Tudo o que guardo cá [dentro]
É clandestino para ti...
Fico ali só, como encantado, a olhar.
João Pedro / 2008

28 de novembro de 2011

Uma frase com 2066 anos ...

Conseguem encontrar alguma similaridade, nas palavras de Marcus, com a actualidade?

Cá para mim, das duas, uma:

Ou Marcus Tullius era um visionário, melhor ainda que o Nostradamus, ou então, nem ao fim de 2066 anos, "Nós" conseguimos aprender a lição.

O Homem, em todo o seu esplendor intelectual...

Viva aquilo que nos separa dos outros Seres vivos... A estupidez!

22 de novembro de 2011

Sonho trágico

Por mais voltas que a vida dê
deixo sonhos por este mundo,
imaginando como seria viver
afundado num sono profundo.


A fugir de pesadelos vividos,
perscruto bem no meu interior,
razões pelos quais são movidos
estes demónios do meu exterior.


São causas que não descubro,
provavelmente nem existem.
Talvez amargura que encubro
seja motivo porque persistem.


Aparento ser tão trágico,
mas nem é, o que parece...
Sigo até um mundo mágico,
lá tudo de bom acontece!


Mais sonhos que vou deixar,
que acabo sempre por perder.
Mas quando esta vida acabar,
é para os sonhos que vou viver.


                                                   João / finais do séc. passado


Nota:
Pior que enfrentar a mais dura realidade, é querer viver no melhor sonho.
Como já pude desejar viver dessa forma…
Felizmente, a vida é constante evolução. Basta procurar ser melhor…
Abraçar a realidade... E o sonho torna-se real.

21 de novembro de 2011

Deixa-o adormecer...

Guardo na memória o essencial.
O Passado, nesse não toco.
Não por querer esquecer,
mas para não lembrar...

Prefiro deixá-lo adormecer.

Pesa quando o acordam,
quando o trazem ao presente
e o entornam em cima de mim.

Mesmo se fosse imparcial...

São pedras que lançam,
lágrimas que extraem no fim.

Por isso...
Guardo na memória o essencial.
O Passado, nesse não toco.

Prefiro deixá-lo assim...


João Pedro / 2006

O IDIOTA E A MOEDA

Conta-se que numa cidade do interior, um grupo de pessoas tinha o habito de se divertir com o tolo da aldeia. Um pobre coitado, de pouca inteligência, que vivia de pequenos biscates e esmolas. Diariamente, eles chamavam o tolo ao bar onde se reuniam e ofereciam-lhe sempre a escolha entre duas moedas: uma grande de 400 REIS e outra menor, de 2000 REIS. Ele escolhia sempre a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para todos. Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e perguntou-lhe se ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos.

Respondeu o tolo: - Eu sei, ela vale cinco vezes menos, mas no dia que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar a minha moeda.

Podem-se tirar várias conclusões dessa pequena narrativa:

A primeira: Quem parece idiota, nem sempre é.

A segunda: Quem eram os verdadeiros idiotas da história?

A terceira: Se fores ganancioso, acabas por estragar a tua fonte de rendimento.


Mas a conclusão mais interessante é: A percepção de que podemos estar bem, mesmo quando os outros não têm uma boa opinião a nosso respeito.
Portanto, o que importa não é o que pensam de nós, mas sim, o que realmente somos.

Autópsia das Palavras

O blog Autópsia das Palavras não será o teu médico patologista, mas sim a morgue onde irás fazer a necrópsia ao que escreves e ao que lês. Terás a oportunidade de pegar no teu bisturi e dissecar o teu próprio estilo literário. Quando há liberdade, o limite é a tua consciência. Boa autópsia!

"Cadáver" autópsiado por João e Gummy (Março/08)


Numa rua macadamizada por queimaduras lunares, quando a mente se abstêm de sentir, quando fecho tudo no cofre e só quero fugir de formigas inchadas de luto numa escadaria alcatifada por padrões de ervas pantanosas.
Ao olhar para dentro, o Homem percebe finalmente que a alma é a única parte que não o engana, que sente facas, espigões aguçados na planta dos pés.
Ninguém lá passou durante uns minutos. Até que o mago surgiu lá do fundo, segurando um frasco de cianeto.
Bebo ou não bebo? Fujo ou enfrento?
Ao chegar a este dilema, pergunto:
- Quanto vale uma vida?
- Dez cêntimos?
- Talvez – respondeu o grilo.
Na geladaria era tudo algazarra.
O padre, ao tentar controlar a tentação, pede só um café.
O resto da prole, lambia sorvetes como loucos, como se amanhã o mundo acabasse e todas as coisas se dissipassem, como se o prazo de validade tivesse acabado.
Então corri para o meio da estrada – um tráfego desenfreado – e gritei:
- Chega de acreditarem em algo que não vos pertence. Basta de “idolatrismos” baratos que compraram em qualquer feira. Fim ás muletas artificiais, morte às canetas rotas!
O Zé Barbeiro veio á porta excomungar os pelintras de batina branca, sempre prontos para venderem a mentira aos mais incautos, aos mais fracos.
Se eles soubessem o que eu sofri! Naquele antro de esperma artificial, fabricado por políticos, extraído de macacos, como um instinto que não consegue ser levado ao raciocínio estrambótico de um esquizofrénico fechado numa clínica de recuperação.   


Dedicatória ao meu primeiro blog e á Gummy que, comigo, embarcou nessa viagem ao desconhecido e me levou a conhecer este mundo dos blogs.

15 de novembro de 2011

A Paz

Há algum tempo, encontrei uma folha que a minha mãe tinha guardado religiosamente. Trata-se de um dos primeiros textos que escrevi, quiçá o primeiro, devia ter uns 10 anos. Chama-se “A Paz”...


A Paz
A Paz é a Paz.
Para onde a Paz vai, a Paz segue-a,
por isso, a Paz é uma seguidora da Paz.
A Paz é tudo o que a Paz pensa.
A Paz é a união da Paz com a Paz.
Se a Paz vai ás compras, a Paz vai com ela.
A Paz está sempre na igreja, mas quando se encontram lá duas pazes forma-se uma depressão e chovem pombas brancas.
Um dia a Paz morreu. A Paz foi ao enterro!

Viagem ao Núcleo


Por entre conversas banais,
típicas á mesa de um café,
tento afastar-me e viajar até ao núcleo...
Implodir palavras até tocar os pensamentos.
Admito que é uma jornada solitária,
mas não confundas com solidão.
Eles continuam a solicitar minha atenção.
São como um problema no motor de arranque.
Se me ignorarem, talvez consiga funcionar.
E quando abalar …
Nessa altura, ninguém me segura!
Passo a Ser ausente, vêem-me por fora,
mas não estou presente.
Contudo, terei de aguardar.
Outra vez os problemas no arranque...
Decido então voltar á mesa de café.
- Desculpa, não ouvi. Podes repetir?

Mais um caso dramático...

Vale do Matadouro

Um rio de lava desceu o vale e penetrou silenciosamente no prado verde, onde alheado do perigo iminente se banqueteava um grupo de vacas e respectivos bezerros.
Os noviços ruminantes são os primeiros a tombar. Se não definham assados na lava incandescente, acabam espezinhados pelos adultos que esquecem até a própria descendência, tal é o pânico instalado.
Do alto de um monte, um velho assiste impávido aos gemidos de dor protagonizados pelos animais, enquanto estes carbonizam, de forma lenta e ascendente, na torrente laranja.
A debandada é geral, mas o fluxo piroclástico é mais lesto. Acabam cercadas, sem um caminho de fuga. Sem porta de saída.
Ao envolver-lhes o pernil, estas começam por sentir uma leve comichão, embora o calor se tenha tornado insuportável.
Neste momento, o velho consegue identificar no ar um cheiro a carne queimada que inunda o vale.
Algo que, inconscientemente, lhe abre o apetite.
Tal como um castrador de esperança, o magma continua a sua subida, tocando o rabo, retendo-se a meros centímetros das tetas leiteiras.
É neste momento que começa o verdadeiro sofrimento.
Guinchos de dor e aflição fazem-se ecoar por todo o vale.
Do pernil já só resta o osso que as mantêm de pé, visto a carne ter já sido consumida pela lava esfaimada.
Altura em que a Aba, local do bovino onde se encontram as entranhas, rebenta, soltando-as em repuxos de sangue e pedaços de carne em brasa.
Algumas conseguem abdicar do sofrimento, mergulhando o focinho no fogo numa tentativa de abreviar o processo de incineração.
Outras, no entanto, de olhos esbugalhados e hipnotizadas por um misto de desespero e resignação, sentem a lava envolver-lhes o lombo num abraço sufocante de quem se despede para a morte.
Todo o vale, após este breve espectáculo macabro, adquire um tom alaranjado que o torna particularmente belo.
Depois de contemplar tudo isto, o velho, no alto do seu monte, vira costas e diz para si próprio:
- Também não gostava muito delas. Estavam sempre a pisar a minha horta.

Momentos Nicola

14 de novembro de 2011

Reanimar o coração

Abri a gaveta, estava ferrugento
liguei-o, mas não correu gota.
Seu problema de funcionamento
a válvula de saída, estava rota.

Foram impurezas de certeza,
incúria, tenho quota-parte.
Induzida por tanta frieza,
quase lhe dei um enfarte.

Para lhe purgar as injustiças
passei óleo nas dobradiças.
um banho de desinfectante,
lavei-o até ficar brilhante.

E consegui trazê-lo á vida
mas com pouca lucidez,
a liberdade que foi contida,
verteu-a toda de uma vez.

Tem calma amiguinho,
não gastes tudo na hora.
Avança mais devagarinho,
tens todo o tempo lá fora.

Procura amar quem te ama,
respeita quem te respeita.
Evita chamar a ti o drama
e tens assim a vida feita...

Poesia...

Talvez seja a vida de cada um
feita de sonhos, alegria e tristeza.
Do mais ilustre ao mais comum,
se sentir é para todos uma certeza. 

É a alegria de ver um filho nascer
ou a tristeza de uma Mãe a partir, 
Reencontrá-la na minha vez de ir. 
É nunca deixar a esperança morrer.

Poesia é o sorriso de uma criança. 
É estar na vida de cabeça erguida.
Crer que após tempestade há bonança. 
É nunca dar uma causa como perdida.

Poesia é não afastar os sentimentos,
realizar sonhos, enfrentar tormentos. 
É não ter medo de entregar o coração. 
É mergulhar de cabeça numa paixão. 


Poema dedicado á minha Mãe 

Sem ti...

Sem ti...
Sou canário sem pio
um quarto sem ter luz.
Pela noite acordado,
sou errante num vazio,
aquele jogador sem sorte,
sou um cego que já viu.

Sem ti perco o norte,
não sei para onde vou.
É uma dor lancinante
quando te vejo distante…

É assim que eu estou.

Sem ti não faz sentido,
este amor por expirar.

Em apneia nesta vida,
Mergulho sem respirar!

E sigo sem vontade...

Hoje, acordei deprimido.
A culpa... É da saudade!

Embriaguez



Embriagaste-me de amor,
nem percebi quanto bebia.
Só no sentir do seu calor
ao beber, aquele ardor,
compreendi o que sentia.

Após tanto tempo ausente
de sentimentos abstinente,
foi com a tua embriaguez
que tive a minha lucidez.

Agora ando alterado,
até perdi a timidez.
Três shots de carinho,
uns copos de mimado.
Ainda tenho este vinho
que o meu coração fez,
só para ti amor…
…este, é adoçado!

dEsDoBrAmEnTo CoRpOrAl


Vou ao Médico.
Tenho um desdobramento corporal causado por um sonho que ficou preso no Lobo Frontal.
Tentei definir as sequências do movimento dos planetas, atraídos pela gravidade do pensamento criativo.

Não consegui sair do abstracto. Era, para mim, uma tarefa difícil.
Julgo não ter planeado bem o estratagema para executar a acção desejada.
Ainda tentei recorrer á capacidade para ligações emocionais, mas continuei bloqueado na atenção selectiva.
E fiquei triste.
Procurei uma resposta afectiva que conseguisse explicar o meu erro. Esbarrei no julgamento social e permaneci assim, obstinadamente preso a estratégias que não funcionam.
Quantas manipulações serão necessárias para conseguir evitar um trauma no córtex pré-frontal, Sr. Doutor?

Saber a Mar

Abraça-me gelado, aquece-me a alma.
Irrelevante se tenho medo ou desejo...
Só peço que sejas meu aliado
se é dentro de ti que me revejo.

Uma valsa molhada, um tornado de calma.
Dás-me alegria, eu devolvo em paixão.
E - no momento - toda tristeza é algemada
no bailado da tua imensidão.

És alento na minha vida,
Amor no meu organismo.
Por ti procurei a saída,
contigo fugi do abismo.

E aos poucos fiquei viciado,
já nem reparo no teu aspecto.
É onde me sinto mais abrigado,
neste templo que não tem tecto.

Vais fazer parte do meu mundo
até se cansarem que eu viva.
Amando até a Mulher mais bela,
para sempre serás a minha Diva.

Pressa de lá chegar

Mentes fracas passageiras,
caçadores de embusteiras.
Vertem lágrimas de sangue
violando a boca pelo sorriso.

Descanso o tempo e analiso:
-Será que vale a pena
competir nesta arena,
dar corpo a uma vontade
presa pela curiosidade?

Podia gritar, espernear
mas ninguém me ouve.

- Calma, vamos passear.

Não vale a pena lamentar,
algo que não houve.

Perder tempo a fomentar
sentimentos repetitivos.
Tens mais em que pensar,
trilhos menos corrosivos.

Não queiras compensar
o actual vazio por dentro,
chega de olhar o mundo
agora, descobre o teu fundo.

Caminha até ao epicentro
do teu sismo de emoções,

Para mais tarde, os corações.

Sem dor não há crescimento,
aguarda pelo teu momento.
Sem pressas nem correrias…
Assim, já mais lá chegarias.


João Pedro/2009

4 anos

"Quando o amor existe, os anos são dias e o tempo é contado, não por minutos, mas por momentos..."

Para uma pessoa especial

Alimento

Tudo tem princípio, meio e fim,
Porque aqui, nada é garantido.

Quem acredita não ser assim,
Que coração não pede alimento,
Vai acabar por vê-lo perdido,
Seja qual for o sentimento.

E só quando este se dissipar,
Como lareira sem aquecer,
Compreende que o dar
É complemento de receber.

3 de novembro de 2011

Viver


Sou um privilegiado por acreditar que nada acontece por acaso.
E que tudo tem uma razão de ser...
Acreditar que a vida tem seus rumos e eu vou optando, caminhando,
perdendo e vencendo ao longo do meu destino.
Isto permite-me aceitar tudo aquilo que não controlo.
As contrariedades que surgem no meu caminho.
Permite-me, contudo, também sentir gratidão

por tudo de bom que a vida oferece.
Gratidão, sentimento tão saboroso…

O desafio é ir percebendo o que realmente depende de mim.
Por isso, trabalho!

Luto e conquisto, caio e ergo-me de novo.
Sempre de cabeça erguida.

De uma coisa tenho a certeza…
A vida ama-me e eu amo-te de volta.